segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Declaração internacional da Marcha Mundial das Mulheres 


No dia 10 de dezembro de 2012, nós, ativistas da Marcha Mundial das Mulheres realizaremos ações nas nossas comunidades entre as 12h e as 13 horas. Da Nova Caledônia até Seattle, vamos nos mobilizar durante 24 horas para lançar um grito de alerta sobre os ataques aos direitos das mulheres, e para dar visibilidade para nossas ações de resistência e nossas alternativas.

Há oito anos, em 2004, reunidas em Kigali, Ruanda, aprovamos a Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, após um longo processo de construção e elaboração coletiva. Nessa carta afirmamos que ”Nós, as mulheres, há muito tempo marchamos para denunciar e exigir o fim da opressão que vivemos por sermos mulheres e, para afirmar que a dominação, a exploração, o egoísmo e a busca desenfreada do lucro produzem injustiças, guerras, ocupações, violências e devem acabar Estamos construindo um mundo que tenha como força motriz a igualdade, liberdade, solidariedade, justiça e paz. Mundo que, com a nossa força, somos capazes de criar.”

Hoje, em 2012, a motivação de construir outras formas de organização da vida, que superem o patriarcado, o capitalismo, o racismo, a lesbofobia, ganha ainda mais sentido face às crises sistêmicas e às suas falsas soluções. A crise econômica agrava o desemprego e apresenta como resposta apenas medidas de austeridade e cortes nas políticas sociais. As crises ambiental e climática são respondidas com a privatização da natureza. A crise do trabalho de cuidados gera maior responsabilização e sobrecarga das mulheres, especialmente para garantir as necessidades mais básicas que todas e todos temos. Estas falsas soluções são impostas pela captura do espaço político pelas corporações e tecnocratas financeiros, pela criminalização das lutas sociais e por um aumento da militarização. Estas crises se beneficiam e se alimentam com o aumento do conservadorismo, dos ataques dos fundamentalistas de diferentes religiões, do aumento de todo o tipo de violência contra as mulheres, do controle e maior mercantilização dos nossos corpos, da ameaça aos nossos direitos e conquistas.

A poetisa filipina Joe Barrios resume: ser mulher é viver uma guerra constante.

Nós mulheres vivemos em meio a uma crise permanente. Construímos alternativas no desenvolvimento de outras formas de produção e preparação dos alimentos, ao cuidar das pessoas, na economia solidária, nas rádios comunitárias e em tantas outras formas de comunicação a partir dos movimentos sociais, nas festas populares livres de sexismo e de discriminação. Desenvolvemos práticas contra-hegemônicas e alternativas de poder popular, reescrevemos a história para resgatar a memória das nossas avós e de tantas lutadoras feministas, para recriar a harmonia entre os seres humanos e a natureza, que convidam a debater uma vida que valha a pena ser vivida.

Propomos um outro mundo, onde a exploração, a opressão, a intolerância e as exclusões sejam abolidas, onde a integridade, a diversidade, os direitos e liberdades de todas e todos sejam respeitados.

Juntas numa ação comum, neste 10 de dezembro, aprofundamos a resistência nos nossos países e no mundo:

Continuaremos unidas até que todas as mulheres sejam livres!
Mulheres em resistência, 10 de dezembro de 2012

Somos todas Apodi!

Aqui no Brasil, a disputa em torno do modelo de desenvolvimento no Brasil é o que nos move nesse dia de ação feminista. Manifestamos nossa solidariedade à resistência das mulheres de Apodi, no Rio Grande do Norte.

O agronegócio é o projeto do domínio do capital sobre nossos territórios e sobre nossas vidas. Ele mostra seus interesses e poder em todos os cantos, como na violência contra os e as indígenas no Mato Grosso do Sul para o monocultivo de soja transgênica, e na busca de uma aliança estratégica com setores do governo federal para tomar as terras de camponesas e camponeses da chapada do Apodi.

Estamos nas ruas em solidariedade às mulheres de Apodi, que resistem ao agro e hidronegócio.

Somos contra a proposta do perímetro irrigado de Apodi. O projeto quer entregar as terras da Chapada do Apodi e as águas da barragem de Santa Cruz para cinco empresas que produzem frutas para exportação. Esse projeto foi apelidado de Reforma Agrária ao contrário. Isso porque ele tem como objetivo desapropriar 13.855 hectares de pequenas propriedades para reconcentrar essa terra nas mãos do agronegócio. O exemplo de outros perimetros irrigados demonstram que aumenta a miséria, a prostituição e a violência.

A luta da Marcha Mundial das Mulheres, em conjunto com outros movimentos sociais, é em defesa de um modelo de desenvolvimento com igualdade e justiça. O projeto ameaça a agricultura familiar e camponesa e a produção do viver de centenas de famílias, que, a partir da produção nas pequenas propriedades, representa o terceiro PIB agropecuário do Rio Grande do Norte.

A produção na região é de mel, caprinocultura, avicultura e as agricultoras desenvolvem, cada vez mais, a agroecologia. Esta produção de alimentos abastece a região. Mas o perímetro irrigado vai acabar com isso: as empresas irão produzir para a agroexportação e da forma como o agronegócio sabe fazer: com agrotóxicos que contaminam a terra, a água e os alimentos, provocando escassez de água para os e as produtores/as de arroz do vale.

Por isso afirmamos: a chapada do Apodi é território da agricultura familiar camponesa!!!

A nossa luta é todo dia nossa chapada não é mercadoria!!!

Contra o agronegócio, por soberania alimentar!

A soberania alimentar, a reforma agrária e a agroecologia fazem parte da nossa luta por igualdade e autonomia econômica das mulheres, que se articula com uma mudança estrutural no modelo de (re)produção e consumo. As mulheres tiveram que lutar muito pra conquistar a terra e as condições para produzir, como água e infra-estrutura. E da mesma forma tem que lutar para permanecer na terra. Perder as terras significa perder a autonomia econômica e ter que buscar outras formas de sobreviver, provavelmente na periferia das cidades.

As mulheres resistem!

Estamos em solidariedade com as mulheres de Apodi desde o ano passado. Enviamos cartas para o governo, realizamos manfestações e audiências públicas. Mas apesar destas ações, o governo segue com a implementação deste projeto e já iniciou a indenização de 35 famílias que serão atingidas pela primeira fase da construção do perímetro irrigado.

Nos últimos meses, as mulheres de Apodi demonstram coragem na resistência e, neste 10 de dezembro, nós mulheres do Brasil e de todo o mundo nos unimos a esta luta: somos todas mulheres de Apodi!
Estamos em marcha até que todas sejamos livres! No Brasil, isso significa, também, até que o campo esteja livre do agronegócio!

Fonte: MMM 

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